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CARL VON CLAUSEWITZ - DA GUERRA

CARL VON CLAUSEWITZ

O CONHECIMENTO DEVE TORNAR-SE UMA APTIDÃO

Ainda falta um requisito a ser considerado - um fator mais essencial ao conhecimento militar do que qualquer outro. O conhecimento deve ser tão assimilado pela mente que praticamente deixe de existir de uma maneira separada e objetiva. 

Em quase todas as outras artes ou profissões, um homem pode trabalhar com as verdades que lhe foram ensinadas por livros bolorentos, mas que não possuem vida nem importância para ele. Até mesmo as verdades que estão sendo constantemente utilizadas e que estão sempre à mão podem não ser, apesar disto, essenciais. 

Quando um engenheiro senta-se com papel e lápis para determinar a resistência de um pilar através de um cálculo complexo, a verdade da resposta a que ele chega não é uma expressão da sua própria personalidade. 

Primeiro ele seleciona cuidadosamente os dados, em seguida submete-os a um processo mental que não foi inventado por ele, de cuja lógica ele não está no momento totalmente ciente, mas que emprega na maior parte das vezes mecanicamente. Na guerra nunca é assim. Alterações contínuas e a necessidade de reagir a ela obrigam o comandante a levar com ele todo o aparato intelectual do seu conhecimento. 

Ele deve estar sempre pronto para tomar a decisão adequada. Através de uma total incorporação à sua mente e à sua vida, os conhecimentos do comandante devem ser transformados numa autêntica aptidão. É por isto que tudo parece brotar tão facilmente na mente dos homens que se distinguiram na guerra, e porque tudo é atribuído a um talento natural. Dizemos talento natural para diferençá-lo do talento que foi treinado e educado através da reflexão e do estudo.

Estas observações terão, creio eu, esclarecido o problema com que se defronta qualquer teoria de guerra, e indicado uma maneira de obter a sua solução.

Dividimos a condução da guerra nos dois campos da tática e da estratégica. 

A teoria desta última, como já afirmamos, enfrentará indiscutivelmente os maiores problemas, uma vez que a primeira está praticamente restrita aos fatores materiais, enquanto que com relação à teoria estratégica, lidando como lida com os fins que levam diretamente ao restabelecimento da paz, a gama de possibilidades é ilimitada. Como estes fins têm que ser considerados principalmente pelo Comandante-em-Chefe, os problemas surgem principalmente naquelas áreas que são da sua competência.

No campo da estratégia, portanto, ainda mais do que no da tática, a teoria se satisfará com a simples consideração dos fatores materiais e psicológicos, principalmente quando abrange o mais sublime dos empreendimentos. Ela será suficiente se ajudar o comandante a adquirir aquelas ideias que uma vez assimiladas em sua maneira de pensar tornarão mais suave o seu avanço e o protegerão, e nunca o obrigarão a abandonar as suas convicções devido a qualquer fato objetivo.

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